São João Paulo II apresenta por meio de suas catequeses uma releitura do corpo e da expressão de sua linguagem. Enquanto o pecado e a concupiscência esvaziam o real significado do corpo, a redenção de Cristo restaura seu verdadeiro valor pela verdade. Isso por que Cristo assumiu o corpo humano, e por isso o redimiu. Jesus é a verdade (como ele mesmo afirma), por isso a ‘linguagem do corpo’ adotou novo sentido por meio da redenção. Sobre a ‘linguagem do corpo’ na perspectiva do matrimônio, o Papa afirma que: “Podemos dizer que o elemento essencial para o matrimônio enquanto sacramento é a ‘linguagem do corpo’ relida na verdade. É precisamente através disso que o sinal sacramental é constituído.” (TdC 104). Deste modo, podemos entender que um matrimônio que não tenha uma visão restaurada do corpo, ou seja, conduzida pela cobiça ou pelo utilitarismo, este matrimônio não conseguirá se sustentar, pois lhe faltará a verdade que lhe constitui.
A Teologia do Corpo tem como um de seus objetivos resgatar a verdadeira linguagem do corpo humano, e para isso conduzir o homem e a mulher a viver a autêntica experiência do amor. Esta linguagem se expressa mais precisamente no corpo do casal: “Os corpos dos esposos falarão ‘por’ e ‘da parte’ de cada um deles, falarão no nome e com a autoridade da pessoa, de cada uma das pessoas, realizando o diálogo conjugal, que é próprio da sua vocação e baseado na linguagem do corpo, continuamente relida na ocasião correta e no tempo oportuno: e é necessário que seja relida na verdade!” (TdC 106). O Papa São João Paulo II acrescenta que não apenas na relação conjugal os corpos precisam expressar esta verdade, mas em todas as suas relações. A verdade precisa envolver o ser humano por completo e assim restituir nos olhares e nas atitudes a real dignidade do corpo, afetiva e sexualmente: “Se o ser humano – homem e mulher – no matrimônio (e indiretamente também em todos os âmbitos da convivência mutua) confere ao seu comportamento um significado em conformidade à verdade fundamental da linguagem do corpo, então também ele mesmo ‘está na verdade’. Caso contrário, comete engano e falsifica a linguagem do corpo”. (TdC 106). E é esta vivencia da verdade que libertará o casal (cf. Jo 8, 32) de toda armadilha do pecado.
A verdadeira ‘linguagem do corpo’ precisa, portanto, alcançar toda a vida da pessoa, como São João Paulo II diz, todo o ‘ethos’ que vai muito além da lei propriamente dita, mas é uma conduta que eleva a condição humana a vivência do amor segundo a vontade de Deus. Este amor, no âmbito do matrimônio precisa alcançar a fecundidade que é uma das finalidades desta união. A abertura a vida é uma das consequências desta releitura da ‘linguagem do corpo’ pela verdade. O Papa ensina que: “Na verdade do sinal, e consequentemente no ethos do comportamento conjugal, está inserido, em uma perspectiva relacionada ao futuro, o significado procriativo do corpo, isto é, a paternidade e a maternidade. À pergunta: ‘Estais dispostos a acolher com responsabilidade e amor os filhos que Deus vos quiser dar, educando-os segundo a lei de Cristo e da sua Igreja?” – o homem e a mulher respondem: ‘Sim’.” (TdC 105). Aqui São João Paulo II resgata a promessa feita no altar que, provavelmente, seja a que menos se dê o devido valor, que é o Sim que o casal diz um para o outro (e para Deus) quanto ao acolher o dom da vida. Esta atitude precisa ser refletida por todo casal, pois devem se perguntar se a decisão de ter ou não ter filhos está pautada na generosidade ou no egoísmo. Mas é preciso que esta resposta seja dada, de todos coração, na verdade.
Por fim, São João Paulo II conclui esta reflexão sobre a ‘linguagem do corpo’ afirmando que: “Deste modo, na visão evangélica e cristã do problema, o homem ‘histórico’ (depois do pecado original), com base na ‘linguagem do corpo’ relida na verdade, é capaz – como homem e mulher – de constituir o sinal sacramental do amor, fidelidade e honestidade conjugal, e isto como sinal duradouro: ‘ser fiel sempre, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, amando-te e respeitando-te todos os dias da minha vida.” (TdC 107). Deste modo, ele resgata o ensinamento de São Paulo VI em sua encíclica Humanae Vitae, que o amor autêntico precisa ser Livre, Total, Fiel e Fecundo. Só assim o casal unido em matrimônio alcançará a felicidade tão desejada.
Por Valdo Júnior | Missão Maria de Nazaré
- #1 – Teologia do Corpo do Papa João Paulo II
- #2 – Em colóquio com Cristo sobre os fundamentos da família
- #3 – A redenção do corpo
- #4 – O Ser humano Integral
- #5 – O homem original: solidão, unidade e nudez
- #6 – A solidão original
- #7 – A unidade ou comunhão original
- #8 – A nudez original
- #9 – O significado esponsal do corpo
- #10 – A inocência original
- #11 – Conhecimento e procriação
- #12 – Cristo se refere ao coração humano
- #13 – À luz do sermão da montanha
- #14 – O significado da vergonha
- #15 – O homem da concupiscência
- #16 – Mandamento e Ethos
- #17 – O coração: acusado ou chamado
- #18 – O maniqueísmo
- #19 – Os ‘mestres da suspeita’
- #20 – Pureza como “Vida segundo o Espírito”
- #21 – Cristo se refere à Ressurreição
- #22 – A Realidade da Ressurreição
- #23 – A ressurreição e o significado esponsal do corpo
- #24 – Um novo Adão
- #25 – O Celibato para o Reino dos Céus
- #26 – Celibato e Matrimônio
- #27 – Dimensão da aliança e da graça no Matrimônio
- #28 – Analogia esponsal
- #29 – Mistério e Dom no amor esponsal
- #30 – O matrimônio e a redenção do corpo
- #31 – Matrimônio e a dimensão do sinal
- #32 – A ‘linguagem do corpo’ relida na verdade