O ensino e a valorização que a Teologia do Corpo dá acerca do Celibato e do Matrimônio talvez estejam entre as principais contribuições de São João Paulo II para Igreja. Num tempo em que tanto a vocação familiar quanto o Celibato têm sito tão atacados pelo relativismo e a erotização do mundo moderno, a Teologia do Corpo age como uma obra de ressignificação destas vocações. Quanto ao valor do Matrimônio e do Celibato o Papa afirma que: “Do contexto do evangelho de Mateus 19, 10-12, resulta de modo suficientemente claro que não se trata aqui de diminuir o valor do matrimônio em favor da continência e nem sequer de ofuscar um valor com o outro.” (TdC 77). Ele afirma aqui que as duas vocações têm um papel fundamental na sociedade e na Igreja.
O Papa porém se pergunta na catequese número 77: “No seu enunciado, põe Cristo, porventura em relevo a superioridade da continência ‘pelo Reino dos Céus’ acima do matrimônio?” Ele mesmo responde esta interrogação considerando tanto a fala de Cristo no evangelho de Mateus (citado acima), quanto da carta de São Paulo aos Coríntios: “Se compreendermos a superioridade sobre o matrimônio neste sentido, devemos admitir que Cristo aponta para ela implicitamente; contudo, não a exprime de modo direto. Só Paulo dirá daqueles que escolhem o matrimônio, que fazem ‘bem’, e, dos que estão dispostos a viver na continência voluntária, dirá que fazem ‘melhor’ (ver 1 Cor 7, 38).” (TdC 77)
É importante reforçar, porém, que isso não significa uma desvalorização do matrimônio, muito pelo contrário. Destacar o valor do celibato é, de certo modo, valorizar também a vocação familiar, já que são das famílias que surgem os sacerdotes, religiosos, religiosas e leigos que optam pelo celibato por amor ao Reino dos Céus. Sobre isso São João Paulo II nos ensina que: “A ‘superioridade’ da continência pelo matrimônio não significa nunca, na autêntica Tradição da Igreja, uma depreciação do matrimônio ou uma diminuição do seu valor essencial (…). A superioridade evangélica e autenticamente cristã da virgindade, da continência, é, portanto, ditada pelo motivo do Reino dos Céus.” (TdC 77).
A Teologia do Corpo ensina que estas duas vocações são de certo modo complementares. Embora as duas tenham o como finalidade última conduzir o ser humano a união eterna com Deus, e o façam por caminhos diferentes, uma reflete algo de fundamental a outra: O Matrimônio reflete ao Celibato o valor da comunhão, enquanto o Celibato reflete ao Matrimônio ao sentido da eternidade. As duas vocações precisam uma da outra para se justificarem e se apoiarem. Por isso a Igreja sempre, valorizou uma vocação sem desprezar a outra.
Ao concluir a reflexão sobre estas duas vocações o Papa: “O matrimônio e a continência nem se contrapõe um ao outro, nem dividem a comunidade humana (e cristã) em dois campos (digamos: aqueles que são ‘perfeitos’ por causa da continência e aqueles que são ‘imperfeitos’ ou menos perfeitos por causa da realidade da vida conjugal). Mas estas duas situações fundamentais, ou seja, como se costuma dizer, estes dois ‘estados’, em certo sentido explicam-se e complementam-se reciprocamente com respeito à existência e à vida (cristã) desta comunidade.” (TdC 78)
Neste sentido, é possível afirmar que o amor é que define estas duas vocações, pois, se por um lado é o amor de um homem e de uma mulher que conduz ambos ao sacramento do Matrimônio, é também o amor ‘ao Reino dos Céus’ que define a vocação ao Celibato. Porém ambos devem buscar suas vocações por mor a Deus acima de tudo, só assim serão conduzidos à verdadeira felicidade. Diante do Matrimônio e do Celibato podemos dizer então, assim como São Joao Paulo II, que “o Amor me explicou tudo!”.
Por Valdo Júnior | Missão Maria de Nazaré
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- #26 – Celibato e Matrimônio