Como em todos os ciclos das catequeses sobre a Teologia do Corpo, o Papa São João Paulo II também inicia este tema (sobre o Celibato) com uma passagem da Sagrada Escritura. Na verdade, esta passagem é a continuação do primeiro trecho bíblico utilizado por ele para conduzir a reflexão da relação entre o homem e a mulher ao princípio. Ao continuar aquela passagem lemos: “Nem todos são capazes de entender isso, mas só aqueles a quem é concedido. De fato, existem homens impossibilitados de casar-se porque nasceram assim; outros foram feitos assim por mão humana; outros ainda, por causa do Reino dos Céus se fizeram incapazes do casamento. Quem puder entender, entenda”. (Mt 19, 8-12). Aqui Jesus aponta a vocação ao celibato, logo depois de ter orientado acerca do matrimônio. Isso demonstra a comunhão que existe entre estas duas vocações.
São Paulo também faz uma importante referência às duas vocações em sua primeira carta aos Coríntios. Logo depois de ter feito uma advertência sobre o matrimônio ele acrescenta: “Isto digo como concessão, não como ordem. Pois quereria que todos fossem como eu; mas cada um tem de Deus um dom particular, uns este, outros aquele” (1 Coríntios 7, 7). É possível compreender facilmente que São Paulo faz referência ao celibato quando diz “…queria que todos fossem como eu”, mas deixa claro que existem as duas vocações e que cada um tem seu dom específico: “…uns este, outros aquele”. São João Paulo II vai dizer que estas são as duas vocações que Deus escolheu para vivermos o amor aqui neste mundo. O matrimônio é uma espécie de seta que aponta para o matrimônio de Cristo com a Igreja no Céu, enquanto o celibato é uma certa ‘antecipação’ deste casamento aqui na terra, uma renúncia ‘por causa do Reino dos Céus’.
Sobre a escolha pelo celibato, o Papa diz que: “Falando daqueles que escolheram conscientemente o celibato ou a virgindade para com o Reino dos Céus (isto é, se fizeram ‘eunucos’), Cristo enfatiza – pelo menos indiretamente – que, na vida eterna, essa escolha está conectada à renúncia e também a um determinado esforço espiritual.” (TdC 74). Portanto, aquele que faz a opção pelo celibato, deve fazê-lo por amor a Jesus e a sua Igreja, assim como um casal busca o casamento por amor. O celibatário antecipa, de certa forma, o Reino dos Céus a este mundo, seja por meio do sacerdote que ministra os sacramentos ou dos religiosos e religiosas, que por meio de seu esforço e sacrifício, apresentam ao mundo a alegria de ser totalmente de Deus.
A realidade do celibato está muito associada ao homem escatológico que gozará na ressurreição final da comunhão eterna com Deus. Por isso é possível afirmar que o celibatário não é um solteiro ou alguém sozinho, pelo contrário, é alguém que traz em sua vocação a decisão, de já aqui, ser totalmente e somente de Deus. Sobre esta entrega São João Paulo II afirma que: “Esta maneira de existir enquanto ser humano (homem e mulher), aponta para a ‘virgindade’ escatológica do homem ressuscitado, na qual, eu diria, o absoluto e eterno significado esponsal do corpo glorificado será revelado na união com o próprio Deus, na sua visão ‘face a face’; e glorificado, também, mediante a união de uma perfeita intersubjetividade, que unirá todos os ‘participantes do outro mundo’, homens e mulheres, no mistério da comunhão dos santos. A continência terrena ‘por amor do Reino dos Céus’ é indubitavelmente um sinal que indica esta verdade e esta realidade. É sinal de que o corpo, cujo fim não é a morte, tende para a glorificação, e por este mesmo fato já é, eu diria um testemunho entre os homens que antecipa a futura ressurreição.” (TdC 75).
Poderíamos nos perguntar sobre as pessoas viúvas ou solteiras, já que São João Paulo II deixa claro, assim como São Paulo, que são estas duas as vocações do qual Deus nos chama, porém, não é complicado explicar que tanto as pessoas viúvas quanto aquelas que se mantém solteiras, os são não por uma decisão livre, mas devido as circunstancias da vida. Justamente por isso se faz tão necessário entrarmos em comunhão com Deus para discernirmos quanto a nossa vocação, mas seja através do matrimônio ou pelo celibato, nossa vocação maior será sempre levar o amor de Deus para todos que por Ele esperam.
Por Valdo Júnior | Missão Maria de Nazaré
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