São João Paulo II não pretendia, em suas catequeses sobre o amor humano, abordar somente os aspectos do corpo e da sexualidade do homem e da mulher em sua dimensão atual, ou seja, neste tempo em que vivemos. Sua intenção sempre foi apontar a ‘meta’, ou melhor, o destino final do ser humano. Seria incompleta uma abordagem que visa uma “antropologia adequada” não tratar da finalidade, pois como diz o escritor Lewis Carroll: “Pra quem não sabe onde quer chegar, qualquer caminho serve.” (Alice no País das Maravilhas). Neste sentido, depois das reflexões acerca do homem do princípio (humanidade original) e do homem histórico (humanidade decaída e redimida), o Papa agora se refere ao ‘homem escatológico’: “Ao lado dos dois outros importantes diálogos nomeadamente aquele em que Cristo faz referência ao ‘princípio’ (Mt 19, 3-9 e Mc 10, 2-12), e o outro no qual ele se refere ao ser interior do homem, indicando o desejo e a concupiscência da carne como fontes do pecado (Mt 5, 27-32), o diálogo que nos propomos a analisar agora constitui, diria, a terceira componente da tríade das enunciações do próprio Cristo: tríade de palavras essenciais e constitutivas para a Teologia do Corpo. Neste diálogo, Jesus refere-se à ressurreição, revelando assim uma dimensão completamente nova do mistério do homem”. (TdC 64)
Este terceiro ciclo de catequeses comporta 21 alocuções nas audiências gerais de quarta-feira, entre novembro de 1981 e julho de 1982. Neste terceiro ciclo o Papa fala da ressurreição futura e também da realidade do Celibato ‘por amor ao reino dos céus’ (cf. Mt 19, 12), como antecipação do casamento eterno entre Cristo e a Igreja. São João Paulo II diz que as palavras de Cristo sobre a ressurreição “têm importância fundamental para entender o matrimônio no sentido Cristão e também ‘ a renúncia’ à vida conjugal pelo ‘reino dos céus’.” (TdC 64).
Como nos outros dois ciclos das catequeses, São João Paulo II inicia sua reflexão com uma palavra de Jesus. Desta vez, para falar da realidade da ressurreição, o Papa nos remete ao episódio em que os Saduceus interrogam o Senhor da seguinte forma: “Havia sete irmãos. O mais velho casou-se com uma mulher e morreu sem deixar descendência. O segundo, então, casou-se com ela e igualmente morreu sem deixar descendência. A mesma coisa aconteceu com o terceiro e nenhum dos sete irmãos deixou descendência. Depois de todos, morreu também a mulher. Na ressurreição, quando ressuscitarem, ela será esposa de qual deles? Pois os sete tiveram por esposa?” (Mc 12, 20-23). Diante deste questionamento, Jesus apresenta uma resposta que ilumina o significado do corpo e que, de fato, dá novo sentido à ressurreição: “Acaso não estais errados, porque não compreendeis as criaturas nem o poder de Deus? Quando ressuscitarem dos mortos, os homens e as mulheres não se casarão; serão como anjos no céu.” (Mc 12, 24-25).
O homem e a mulher não se casarão um com o outro, pois haverá um único casamento no céu: o casamento de Cristo com sua Igreja. É como diz no livro do Apocalipse acerca das ‘núpcias do Cordeiro’, esta é a união eterna no qual Deus reservou para cada um daqueles que o amam. Este é o desejo de Deus desde o princípio, que sejamos todos Dele. Deus nos quer felizes plenamente e sabe que esta finalidade, que todo ser humano traz dentro de si, só encontraremos junto à fonte da Vida que é Ele próprio.