A Teologia do Corpo não é apenas o conteúdo de um Santo Papa, que aborda a sexualidade humana e a relação entre o homem e a mulher segundo o projeto de Deus. É um ensinamento que transcende a realidade deste mundo, e nos aponta a realidade do céu. São João Paulo II fala também sobre a ressurreição do corpo, sobre o “homem escatológico”, ou seja, nosso fim último: a humanidade glorificada. Este conteúdo se encontra no terceiro ciclo das suas catequeses sobre o Amor Humano.
Para o Papa “a ressurreição, segundo as palavras de Cristo referidas pelos Evangelhos, significa não só a recuperação da corporeidade e o restabelecimento da vida humana na sua integridade, através da união do corpo e da alma, mas também um estado completamente novo da própria vida humana. Encontramos a confirmação deste novo estado do corpo na ressurreição de Cristo” (TdC 66). Portanto, não seria possível apresentar uma visão completa acerca da Teologia do Corpo se o Papa não falasse do corpo na ressurreição. O nosso Credo afirma que “cremos na ressurreição da carne”, ressurreição que, como São João Paulo II nos diz na citação acima, não será apenas a união do corpo com a alma na eternidade, mas um novo estado do corpo, um corpo glorificado.
Além dos textos do capítulo 12 do Evangelho de Marcos e do capítulo 22 do Evangelho de Mateus, o Papa também cita o Evangelho de Lucas quando, no capítulo 20, Jesus fala da ressurreição: “Em Lc 20, 36 lemos que ‘já não poderão morrer, pois serão iguais aos anjos; serão filhos de Deus porque ressuscitaram.’ Esse enunciado nos permite, acima de tudo, deduzir uma espiritualização do homem segundo uma dimensão que é diferente daquela da vida terrena (e até diferente daquela do ‘princípio’). É óbvio que não se trata aqui de transformação da natureza humana em uma angélica, isto é puramente espiritual. O contexto indica claramente que o homem conservará no ‘outro mundo’ a própria natureza humana psicossomática. Se fosse de outro modo não teria sentido falar de ressurreição.” (TdC 66). O que São João Paulo II quer nos ensinar é que a natureza humana em sua dimensão psíquica e corporal, será conservada, não deixaremos de ser quem somos, porém haverá uma transformação na relação espírito e corpo.
A ressurreição irá significar para o ser humano “uma nova submissão do corpo ao espírito”. Esta submissão representará a plenitude do ser humano, não apenas como uma forma de espiritualização perfeita, mas como a divinização do ser humano, pois este é o sentido último de nossas vidas nos unirmos a Deus e sermos semelhantes a Ele. Sobre isso São João Paulo II acrescenta que “As palavras dos Evangelhos atestam que o estado do homem no ‘outro mundo’ não será apenas um estado de perfeita espiritualização, mas também de fundamental ‘divinização’ da sua humanidade. (…) A participação na natureza divina, a participação na vida interior do próprio Deus, penetração e permeação daquilo que é essencialmente humano por aquilo do que é essencialmente divino, atingirá, então, o seu auge, de modo que a vida no espírito humano chegará a uma plenitude que antes lhe era absolutamente inacessível. (…) Essa intimidade com Deus em uma perfeita comunhão de pessoas – com toda a sua intensidade subjetiva – não dissolverá a subjetividade pessoal do homem, antes, pelo contrário, a fará emergir numa medida incomparavelmente maior e mais plena.” (TdC 67). Neste sentido, a ressurreição será a glorificação do ser humano pela graça, sua santificação e união eterna com Deus.
A realidade da ressurreição é algo do qual só é possível refletir a partir das palavras de Jesus nos Evangelhos. Diferente da realidade do pecado, em que enfrenta o cotidianamente o homem histórico, a ressurreição final é algo que ainda não foi experimentado. Por este motivo, nos cabe confiar e esperar naquela palavra de São Paulo quem diz “Coisas que os olhos não viram, nem os ouvidos ouviram, nem o coração humano imaginou, tais são os bens que Deus tem preparado para aqueles que o amam.” (1 Cor 2, 9).