Neste terceiro ciclo das catequeses o Papa São João Paulo II fala sobre a ressurreição do corpo, fato que ele define como ‘dimensão escatológica’, no qual o homem viverá no céu sua realidade definitiva, ou seja, a finalidade de nossas vidas que é a união com Deus. Sobre este processo ele afirma que: “A ‘divinização’ no ‘outro mundo’, indicada pelas palavras de Cristo, trará ao espírito humano tal ‘gama de experiências’ de verdade e de amor, que o homem nunca seria capaz de atingir na vida terrena. (…) Nesta ‘espiritualização’ e ‘divinização’, em que o homem participará na ressurreição, descobrimos – numa dimensão escatológica – as mesmas características que marcam o significado ‘esponsal’ do corpo; descobrimos essas características no encontro com o mistério do Deus Vivo, que se revela mediante a visão d’Ele ‘face a face’. (TdC 67). Aqui o Papa associa a ressurreição ao significado esponsal do corpo, já que em ambos os casos a comunhão com Deus é a consumação e plenitude da realidade do corpo, o motivo principal pelo qual ele foi criado.
A comunhão do homem e, portanto, de seu corpo, com Deus, deve ser a finalidade maior da vida de quem crê. Só de imaginar, que pela Sua infinita bondade e misericórdia, Ele pretende nos envolver em sua vida divina, isso já seria motivo de enorme felicidade, portanto, a concretização disso será abundantemente maior. Sobre esta comunhão, São João Paulo II diz: “A comunhão (communio) escatológica do homem com Deus, constituída graças ao amor de uma perfeita união, será alimentada pela visão ‘face a face’, pela contemplação da comunhão mais perfeita – porque é puramente divina – que é, nomeadamente, a comunhão trinitária das Pessoas divinas na unidade da mesma divindade”. (TdC 68). Em outras palavras, Deus quer que nos unamos a Ele pelo amor, assim como a trindade é uma autêntica e perfeita relação de amor, assim será conosco. Por isso, essa comunhão deve ser iniciada já aqui neste mundo, mesmo que de forma imperfeita, o desejo de nos unir a Deus pela oração, na caridade e principalmente na eucaristia deve ser constante, para que no céu seja eterno.
Esta experiência da ressurreição do corpo será a plenitude do sonho original de Deus. Deus nos fez para Ele, e é por isso que nossa vida só possui razão se ser em Deus. Ele não apenas criou e sustenta nossa existência, mas é o seu sentido. É possível afirmar isso em muitos lugares na Sagrada Escritura, porém no prólogo do Evangelho de São João, isso fica evidente: “Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez. Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens. (…) e o verbo divino de fez carne e habitou entre nós” (João 1, 3-4. 14). A palavra grega ‘logos’ pode ser traduzida como ‘verbo’ e ‘palavra’, mas pode ser traduzida também como ‘sentido’. Assim Deus, que é o sentido do ser humano, assumiu a vida humana, para nos conduzir para sua Vida Divina.
São João Paulo II nos recorda também que na profissão de fé dos apóstolos, junto a ‘ressurreição da carne’ está também a ‘comunhão dos santos’, pois são realidades inseparáveis: “Professamos a fé na ‘comunhão dos santos’ (communio sacturum) e a professamos em conexão orgânica com a fé na ‘ressurreição do corpo’.” (TdC 68). O Papa ainda aponta que os anseios do coração do homem pela verdadeira felicidade e liberdade encontrarão sua perfeição na comunhão eterna com Deus: “Aquele perene significado do corpo humano – à qual a existência de cada homem, oprimida pela herança da concupiscência, trouxe necessariamente uma série de limitações, lutas e sofrimentos -, será então revelado de novo, e será revelado ao mesmo tempo com tal simplicidade e esplendor, que todo participante do ‘outro mundo’ encontrará, no seu corpo glorificado, a fonte da liberdade do dom. A perfeita ‘liberdade dos filhos de Deus’ alimentará, com aquele dom, também cada uma das comunhões que formarão a grande comunidade da comunhão dos santos. (TdC 69). É lindo vislumbrar esta realidade da ressurreição que dá sentido ao nosso corpo por meio de sua união esponsal com Deus, na certeza de que esta união não anulará as autênticas relações que nesta vida foram desenvolvidas (família, amigos e etc.), e que no céu serão todas anexadas de modo perene ao amor deste Deus que nos criou para a felicidade perfeita com Ele.