Este conhecido trecho do Evangelho de São Mateus fala-nos de dois grandes elementos da vida dos cristãos: a fé e a salvação. Podemos fazer uma interpretação desta passagem, na linha da oposição entre o particularismo judaico do povo eleito e do universalismo da salvação, entretanto esta oposição é, meramente, aparente. Deus sempre quer a salvação de todos, jamais de um grupo, de alguns poucos escolhidos. É interessante perceber a atitude capaz de romper com qualquer particularismo: uma fé autêntica e inabalável como a da mulher cananéia.
Uma mulher que não era judia, mas uma estrangeira, cananéia e, como tal, não pertencente ao Povo eleito, à raça de Israel, tem uma filha necessitada de salvação. A fama de Jesus Cristo, não a midiática, como se vê atualmente, e sim a proveniente do encantamento que brotava do encontro das pessoas com Ele, chegou, certamente, aos ouvidos daquela senhora pagã e ela que muito amava sua filha e queria que o sofrimento dela findasse, vai buscar solução junto a este Senhor que fascina e conquista com sua Palavra de Vida Eterna e suas obras de Misericórdia e Amor. Aproxima-se confiante de Jesus e o reconhece Senhor e filho de Davi, isto é, reconhece n’Ele o senhorio de Deus, o ungido e enviado para salvar, o descendente de Davi que estabelecerá o Reinado eterno da Paz e do Amor.
É a impressionante fé de alguém que não teve a mesma base religiosa do povo judeu, alguém sem o conhecimento das Sagradas Escrituras e o percurso de fé dos israelitas. É a fé da estrangeira, fé insistente, que não desfalece mesmo diante das dificuldades que se apresentam. Fé elogiada pelo próprio Cristo: “Mulher, grande é a tua fé!” (v. 28). Cristo desperta a fé, que é dom de Deus, mesmo entre os pagãos. A Salvação, rejeitada pelos filhos de Israel, é estendida a todo aquele que crê, a todos os povos da Terra. Cristo é a Luz das nações. A salvação é universalizada a todos.
Assim, diante da grande e elogiada fé da mulher cananéia, Cristo atende ao pedido que brota do coração desta fervorosa mãe. A salvação adentra a vida desta senhora e de sua filha. Esta mulher sem nome, que nos chegou apenas como “a mulher cananéia”, uma simples anônima, ao lado de tantos outros anônimos pagãos cheios de fé e que reconhecem o Cristo, como o leproso samaritano e tantos outros, são as primícias da multidão de estrangeiros que aderem à fé e se abrem para a salvação planejada e querida por Deus, criador de todos os povos. Que Deus possa suscitar em nós, cristãos, a exemplo da mulher cananéia, o dom de uma fé reta e inabalável que nos faça sempre confiar na Bondade e no Amor do Pai.
Padre João Dias Rezende Filho
Texto de 2011, escrito pelo então seminarista João Dias