“Entre os inúmeros devotos de Nossa Senhora Aparecida, crentes de seu poder de sua magnanimidade, que se ajoelharam aos seus pés, conta-se que esteve o próprio Imperador Dom Pedro I, quando de sua viagem a São Paulo, em 1822. Afirma-se que ele estivera em Aparecida, fizera as suas preces e com estas o voto de proclamar Nossa Senhora Aparecida Padroeira do Brasil, se corressem à feição os acontecimentos de São
Paulo.
É bem de assinalar que a proclamação oficial da Independência do Brasil teve exatamente a data de 8 de setembro de 1822, dia de Nossa Senhora.
As romarias constituem o aspecto lindo e sentimental do culto a Nossa Senhora Aparecida. Em Aparecida o culto é lírico, místico e cheio de Fé. Romarias cantantes em grupos alegres. Iniciaram-se com a nova dos milagres de Nossa Senhora surgida no rio Paraíba em outubro de 1717 e ecoaram pelas serranias as graças que Ela concedia. E começaram a afluir romarias; poucos peregrinos e depois a pé, a cavalo em tropas, em carros de boi e romarias com sacerdotes, magistrados, Imperador, Altezas Imperiais, religiosos, militares, etc.
A Princesa Imperial Dona Isabel esteve visitando Nossa Senhora Aparecida. Temos, por meio de documentos, duas datas, duas visitas da Princesa Isabel à Nossa Senhora Aparecida.
Em “Excursão à Província de São Paulo” de Isabel Condessa d’Eu, há efemérides das viagens do Conde d’Eu na Província de São Paulo. E anotamos: 1868. “Regressando com a Princesa Imperial Da. Isabel, de Águas Virtuosas de Campanha, em Minas Gerais, onde foram fazer uso das águas, visitam, a 8 de dezembro, após etapas em vilas paulistas, a então Capela da milagrosa Nossa Senhora da Aparecida, feita padroeira do Império por D,. Pedro I. A 1º de janeiro de 1869, os Condes d’Eu regressam à Corte passando por Taubaté, Pindamonhangaba e Guaratinguetá.” A passagem por Guaratinguetá de Suas Altezas Dona Isabel e o Conde d’Eu, no dia 7 de dezembro de 1868, está no livro 12 de Vereanças, folha 15 da Câmara dessa cidade, onde o Visconde de Guaratinguetá, Francisco de Assis e Oliveira Borges, comunicava em sessão realizada no dia 3 de novembro: – tem de passar por esta cidade na primeira quinzena do próximo futuro mês Suas Altezas e a Sereníssima Princesa Imperial e seu Augusto Esposo Conde d’Eu – e na comunicação, todas as providências pelo faustoso acontecimento, inclusive “oficiar ao Reverendíssimo Vigário e o mestre da Capela, para celebrar um “Te Deum laudamus” no dia da chegada e afixar o Edital convidando o povo e também pedindo orçamento provincial para a feitura da ponte e estrada até a Capela”… A Coroa da imagem foi oferta da Princesa Dona Isabel, em 06 de novembro de 1888.
A nova igreja foi diversas vezes reformada e aumentada, até que em 1846 foi iniciada a construção de um templo ainda mais vasto. Os trabalhos, porém, diversas vezes interrompidos, só chegaram a termo em 1888; aos 8 de dezembro desse ano, Dom Lino Deodato de Carvalho, oitavo bispo de São Paulo, procedeu à bênção do novo santuário, que até nossos dias subsiste em Aparecida, ornado com o título de “Basílica Menor”, título concedido por S. Pio X aos 29 de abril de 1908.
Para atender aos numerosos grupos de peregrinos que afluíam ao local, o mesmo prelado obteve a vinda dos RR. PP. Redentoristas, os quais desde 1894 têm a seus cuidados o santuário e a respectiva cura pastoral.
Aos 8 de setembro de 1904, realizou-se a solene coroação de Nossa Senhora Aparecida, com a participação do Sr. Núncio Apostólico Dom Júlio Tonti, do representante do Presidente da república, do Episcopado do Brasil Meridional e de grande multidão de sacerdotes e fiéis.
Finalmente, o S. Padre Pio XI houve por bem acolher o pedido da hierarquia e dos fiéis, que desejavam fosse Nossa Senhora Aparecida proclamada Padroeira principal de todo o Brasil. Aos 16 de julho de 1930 publicava S. Santidade o seguinte “Motu proprio”:
“… Por conhecimento certo e madura reflexão Nossa, na plenitude de Nosso poder apostólico, pelo teor das presentes letras, constituímos e declaramos a mui Bem-aventurada Virgem Maria concebida sem mancha, sob o título de “Aparecida”, Padroeira principal de todo o Brasil diante de Deus. Este padroado gozará dos privilégios litúrgicos e das outras honras que costumam competir aos Padroeiros principais de lugares ou regiões. Concedendo isto para promover o bem espiritual dos fiéis no Brasil e aumentar cada vez mais a sua devoção à Imaculada Mãe de Deus, decretamos que cada vez mais a sua devoção à Imaculada Mãe de Deus, decretamos que as presentes letras estejam e permaneçam sempre firmes, válidas e eficazes, surtindo seus plenos e inteiros efeitos”.
Este decreto pontifício foi publicado na Basílica de Nossa Senhora Aparecida, fazendo-se a consagração do Brasil à Virgem Ssma., com grande júbilo dos fiéis.
No ano seguinte, o mesmo ato se repetiu em termos mais solenes na capital da República. A imagem da Virgem foi, sim, entusiasticamente levada de Aparecida para o Rio de Janeiro, onde percorreu em procissão o centro da cidade aos 31 de maio de 1931. Finalmente na Esplanada do Castelo, em presença do Sr. Presidente da república, de altas autoridades civis e militares, de numerosas divisões das Forças Armadas, do Episcopado Brasileiro e de enorme multidão de fiéis, o Cardeal-Arcebispo do Rio de Janeiro proferiu o ato de consagração de todo o Brasil a Nossa Senhora Aparecida, recomendando à Excelsa Padroeira todos os interesses e as necessidades da pátria.
Este ato, que mereceu os aplausos da opinião pública em geral, estava bem na linha de venerável tradição da nação brasileira, a qual sempre mostrou especial devoção à Virgem Imaculada. Entre outros fatos expressivos dessa estima, pode-se notar que, ao proclamar a independência do Brasil, D. Pedro I, o primeiro Imperador, confirmando aliás antiga provisão de Sua Majestade o rei de Portugal do ano de 1646, declarou a Virgem da Conceição Padroeira do Brasil.
Numerosos são os relatos de milagres que tanto a imprensa como a voz do povo atribuem à Virgem Aparecida. As autoridades eclesiásticas não se empenham por definir a autenticidade de tais portentos, nem mesmo a dos episódios concernentes à aparição da Senhora Imaculada no porto de Itaguassú em 1717. Doutro lado, não vêem razão para se opor à devoção de Nossa Senhora Aparecida: ao contrário, esta tem produzido os melhores frutos, espirituais e corporais, no povo brasileiro. É por isto que os Srs. Bispos têm mesmo patrocinado e fomentado a piedade para com a Excelsa Padroeira do Brasil. Contudo, a bem da verdade, deve-se notar que tal atitude favorável é independente de qualquer pronunciamento da autoridade eclesiástica sobre a genuinidade dos prodígios que se narram em torno da Virgem e do Santuário de Aparecida.
A Santa Igreja de modo nenhum entende fazer de tais relatos matéria de fé; deixa, antes, a cada um de seus filhos a liberdade de ponderar o grau de autoridade que merecem os respectivos documentos (o que de resto não desmerece o valor de autenticidade que realmente possa caber a tais episódios).
A presença do sobrenatural em Aparecida exigiu que se empreendesse a construção de nova e mais vasta Basílica. Esta, iniciada em 1955 sob os auspícios do Cardeal Dom Carlos Carmelo de Vasconcellos Motta, estava concluída, com todas as suas capelas e quatro naves, em 1980. A área construída é de 23.000 m² e a área coberta mede 18.000 m². A lotação normal é de 45.000 pessoas, podendo a lotação máxima chegar a 70.000 pessoas. Até hoje são relatados milagres e favores de ordem física obtidos por intercessão de Nossa Senhora Aparecida em seu Santuário; todavia o que mais importa aí, são os numerosos casos de conversão espiritual e reencontro da paz interior alcançada pelo patrocínio de Maria SSma.
O fato de que a imagem da Senhora Aparecida tem a cor preta, tem sido objeto de comentários … Na verdade, o fenômeno se explica bem pela longa permanência da estátua dentro da água do rio. Na época da descoberta o fato não deve ter tido a repercussão e importância que hoje lhe querem atribuir.
A propósito recomenda-se a leitura do livro do Pe. Júlio J. Brustoloni: A Mensagem da Senhora Aparecida, Ed. Santuário, Rua Padre Claro Monteiro, 342, Aparecida (SP), 1994.
O título “Nossa Senhora Aparecida” designa a Santíssima Mãe de Deus tal como ela apareceu na localidade do Estado de São Paulo que hoje traz o nome de “Aparecida do Norte” (nas proximidades de Pindamonhangaba e Guaratinguetá). Lá Nossa Senhora se manifestou com as notas que, na arte sacra, a caracterizam como imaculada em sua conceição; daí dizer-se comumente “Nossa Senhora da Conceição Aparecida”. – A mesma Virgem Ssma., tendo-se manifestado em Fátima, é chamada “Nossa Senhora de Fátima”; tendo aparecido em Lourdes, é dita “Nossa Senhora de Lourdes”, etc. Tais denominações não supõem diversas “Nossas Senhoras”, mas significam sempre a mesma Santa (“Santa Maria, Mãe de Deus …”), apenas invocada sob títulos diferentes.
Padre João Dias Rezende Filho
Texto de 2011, escrito pelo então seminarista João Dias