A ‘Paternidade Responsável’ é um termo utilizado pelo Papa São Paulo VI em sua encíclica Humanae Vitae para se referir ao modo como os cristãos devem viver a abertura a vida, ou seja, sua capacidade geradora. É natural que qualquer pessoa pergunte a um casal, seja recém casados ou ainda noivos: ‘quantos filhos pretendem ter?’ Esta é uma questão muito comum, porém ao casal cristão cabe dar, juntamente com o magistério da Igreja, a seguinte resposta: ‘quantos filhos Deus nos der a graça de termos e por quantos pudermos nos responsabilizar’ (cf. CIC 2373-2379). Em sintonia com o que ensina a Igreja, o Papa Paulo VI diz que: “em relação com os processos biológicos, paternidade responsável significa conhecimento e respeito pelas suas funções: a inteligência descobre, no poder de dar a vida, leis biológicas que fazem parte da pessoa humana (…) a paternidade responsável se exerce tanto com a deliberação ponderada e generosa de fazer crescer uma família numerosa, como com a decisão, tomada por motivos graves e com respeito pela lei moral, de evitar temporariamente, ou mesmo por tempo indeterminado, um novo nascimento.” (HV 10).
Como a Teologia do Corpo tem como uma de suas finalidades a explicação do que ensina a Humanae Vitae, a partir do que foi afirmado acima, São João Paulo II ensina que: “Daqui resulta que na concepção da ‘paternidade responsável’ está contida a disposição não só de evitar ‘um novo nascimento’, mas também de fazer crescer a família segundo os critérios da prudência.” (TdC 121). Deste modo, sem deixar de considerar que o princípio fundamental da moral conjugal é a fidelidade ao plano divino, como ensina a Igreja, os esposos devem também colaborar para que sua família cresça respeitando as condições expressas, seja pelas circunstâncias vividas pelo casal ou pela própria natureza. Assim, a vinda de uma criança será sempre motivo de profunda alegria.
Estas circunstâncias que podem levar o casal a evitar um filho são chamadas pelo Papa Paulo VI como ‘motivos sérios’, sobre isso ele ensina que: “Se, portanto, existem motivos sérios para distanciar os nascimentos, que derivem ou das condições físicas ou psicológicas dos cônjuges, ou de circunstâncias exteriores, a Igreja ensina que então é lícito ter em conta os ritmos naturais imanentes as funções geradoras para usar do matrimônio só nos períodos infecundos e, deste modo, regular a natalidade, sem ofender os princípios morais.” (HV 16). É importante considerar, porém, que mesmo que o casal possa, por meio de métodos naturais, moralmente aceitos, espaçar uma gravidez, o casal nunca deve utilizar destes meios como forma de manipular a fertilidade para deixar de ter filhos por qualquer motivo. Isso esvaziaria o sentido da ‘responsabilidade’ e o tornaria um método contraceptivo como qualquer outro: “A Encíclica coloca a dimensão ética do problema no primeiro plano, sublinhando o papel da virtude da temperança, corretamente compreendida. Na área dessa dimensão, há também um método adequado de agir. No modo comum de pensar, acontece muitas vezes que o ‘método’ separado da dimensão ética que lhe é própria, é aplicado em um modo meramente funcional ou mesmo utilitário. Quando se separa o ‘método natural’ da dimensão ética, não se pode mais ver a diferença entre este e outros ‘métodos’ (meios artificiais), e acaba se falando sobre ele como se fosse apenas outra forma de contracepção.” (TdC 125). A abertura a vontade de Deus deve ser soberana na vida do casal cristão, pois Ele é o Senhor da vida e o único Criador, somos apenas colaboradores, co-criadores.
Diante de tudo o que é ensinado na Humanae Vitae sobre a graça da fertilidade e da fecundidade, o Papa São João Paulo II pretende abordar estes temas de forma positiva por meio da Teologia do Corpo, não a partir do que é proibido ou inadequado, mas a partir da verdade que a ‘linguagem do corpo’ apresenta acerca da sexualidade humana e da vida conjugal. Sobre isso ele afirma que: “Devemos deter-nos na interpretação do conteúdo da Encíclica. Para este fim, é preciso ver esse conteúdo, esse conjunto normativo-pastoral à luz da Teologia do Corpo, como ela emerge da análise dos textos bíblicos. A Teologia do Corpo não é tanto uma teoria quanto, antes, uma pedagogia do corpo específica, evangélica e cristã. Isso deriva do caráter da Bíblia, e, sobretudo, do Evangelho que, como mensagem salvífica, revela o que é o verdadeiro bem do homem, a fim de modelar, na medida deste bem, a vida sobre a terra na perspectiva da vida futura.” (TdC 122). Deste modo, o Papa quer confirmar tudo o que ensinou seu antecessor (São Paulo VI), lançando a luz desta verdade sobre uma perspectiva bíblica de modo a fundamentar tudo o que foi ensinado na Humanae Vidae, mas infelizmente tão mal compreendido, o que torna a Teologia do Corpo ainda mais necessária.
Por Valdo Júnior | Missão Maria de Nazaré
- #1 – Teologia do Corpo do Papa João Paulo II
- #2 – Em colóquio com Cristo sobre os fundamentos da família
- #3 – A redenção do corpo
- #4 – O Ser humano Integral
- #5 – O homem original: solidão, unidade e nudez
- #6 – A solidão original
- #7 – A unidade ou comunhão original
- #8 – A nudez original
- #9 – O significado esponsal do corpo
- #10 – A inocência original
- #11 – Conhecimento e procriação
- #12 – Cristo se refere ao coração humano
- #13 – À luz do sermão da montanha
- #14 – O significado da vergonha
- #15 – O homem da concupiscência
- #16 – Mandamento e Ethos
- #17 – O coração: acusado ou chamado
- #18 – O maniqueísmo
- #19 – Os ‘mestres da suspeita’
- #20 – Pureza como “Vida segundo o Espírito”
- #21 – Cristo se refere à Ressurreição
- #22 – A Realidade da Ressurreição
- #23 – A ressurreição e o significado esponsal do corpo
- #24 – Um novo Adão
- #25 – O Celibato para o Reino dos Céus
- #26 – Celibato e Matrimônio
- #27 – Dimensão da aliança e da graça no Matrimônio
- #28 – Analogia esponsal
- #29 – Mistério e Dom no amor esponsal
- #30 – O matrimônio e a redenção do corpo
- #31 – Matrimônio e a dimensão do sinal
- #32 – A ‘linguagem do corpo’ relida na verdade
- #33 – Cântico dos Cânticos
- #34 – Um Jardim fechado, uma fonte selada
- #35 – A linguagem do corpo no casamento de Sara e Tobias
- #36 – A Lei da Vida como herança
- #37 – A norma moral e a Verdade da ‘linguagem do corpo’
- #38 – Paternidade Responsável