Estamos no tempo quaresmal em toda a Igreja, tempo esse de viver a penitência, a esmola e o jejum para fazer memória aos 40 dias que Jesus esteve no deserto sendo tentado por Satanás e se preparando para o ápice de seu amor pela humanidade: Sua paixão, morte e ressurreição.
Com base nesse momento que estamos vivendo quero expor aqui alguns motivos pelos quais a Sagrada Família de Nazaré nos é exemplo de sacrifício (sem contar esse exemplo máximo de doação que Jesus realizou em favor da salvação do mundo).
Ao voltarmos ao início da história vamos lembrar do Anúncio do anjo Gabriel a Maria sobre sua missão de ser mãe do Salvador, o anjo encontra Nossa Senhora em oração, porque ela era uma jovem que exalava a oração, sem pecado em sua alma, ela era inteiramente devotada a Deus. Já ao lembrarmos de José sabemos que era um homem temente a Deus, íntimo das Escrituras e que frequentava o templo, então certamente orava, pois foi por meio de sonhos e revelações divinas que tanto foi dito a ele para o bem de sua (futura) família.
Mas e onde estão os sacrifícios? Primeiro vamos entender que esse ato de doação só é possível por amor a Deus, ao próximo e é pela oração que podemos nos sacrificar uns pelos outros. Comecemos a refletir com a explicação do Pe. Paulo Ricardo em uma de suas Pregações Seletas sobre a Teologia do Sacrifício:
Eis por que somos capazes de nos sacrificar por amor: quem nunca se sacrificou por ninguém, nunca amou ninguém.
Diante disso não há como negar que Maria e José se sacrificaram por amor a Deus, um pelo outro e principalmente por Jesus, o filho da promessa. Posso assim pontuar com você alguns exemplos de sacrifício desses pais que tanto nos pode ensinar.
Primeiro, Maria era muito jovem e “não conhecia homem”, ou seja, havia consagrado sua vida a Deus, estava prometida em casamento a um homem e ela foi obediente a Lei, sacrificando-se por esse matrimônio. Depois há José, um homem que tem um casamento arranjado, se casa com a moça, mas recebe a notícia de que ela está grávida do filho de Deus, causando nele conflito e medo de assumir aquela missão grandiosa, mas que acaba por entender e por isso sacrifica seus planos de ter uma vida comum para aceitar se tornar pai adotivo do Salvador.
Ao prosseguir na história vem o dia do nascimento de Jesus que sabemos de cor e salteado como aconteceu pela narração bíblica, mas percebo que existem sacrifícios humanos desses pais que podem estar passando despercebidos, por exemplo, imagina estar para dar à luz e não encontrar nenhum lugar seguro e aconchegante para esse momento? Imagine a frustração de José por não conseguir prover algo melhor do que um estábulo para sua esposa e filho? E Maria que desejava ter Jesus em um local digno, mas não tem? Ambos se sacrificaram pelo Menino Deus ao fazerem o melhor que podiam nessas circunstâncias e por fim tiveram seus corações confortados ao receberem adoradores a Jesus, os reis magos.
Outro sacrifício que podemos fazer memória é o da fuga para o Egito que aconteceu por medo do que o rei Herodes poderia fazer se os encontrassem, eles optaram por não retornar à terra natal e seus familiares – decisão que representa o desprendimento de si em nome da família.
Por sempre saberem que Jesus tinha uma missão e que eles criavam o Filho de Deus, eis que chegou o tempo de sua vida que até então estava no escondimento em Nazaré passar a ser “pública”, aonde Ele se fez presença no meio de nós e nos ensinou o que é amar. Então depois de 30 anos ao lado de sua família (supõe-se que José já havia falecido), Jesus sai em missão.
Por muitas vezes deixa sua mãe que mesmo na certeza de que seu filho estava cumprindo o que o Pai queria, sentia saudades, um aperto no peito, mas sacrificava-se, não se levando por sentimentos, mas guardando tudo em seu coração. Não obstante, José doou toda a sua vida ao lado de Maria e Jesus como esposo, pai, protetor e provedor de sua casa e então encerra seus dias na terra cumprindo inteiramente sua missão, sacrificando todo o seu ser em nome dos planos de Deus.
Antes de finalizar essa reflexão do porquê a família de Nazaré é para nós modelo de sacrifício, te convido a buscar na sua história os momentos em que você se sacrificou por alguém, ou seja, amou alguém, deu de si ao outro. Sendo você cônjuge e/ou pai ou mãe com certeza virão inúmeros exemplos em sua mente. Mas e se não vierem muitas lembranças atuais de sacrifício pelos seus? Então é momento de parar e rever quem é mais importante em sua vida, a quem você deve servir por excelência e a partir desse modelo perfeito de amor que é a Sagrada Família se espelhar, mudar, reparar e amar (se sacrificar) verdadeiramente àqueles que Deus te confiou.
Aqui encerro essa partilha pedindo à Sagrada Família de Nazaré que venha sobre você e sua família nesse momento e te dê coragem para se sacrificar pelo que vale a pena, pelo que Deus te confiou, pela meta de santidade que você assumiu no altar para seu cônjuge, seus filhos e para você.
Deus te abençoe!
Tanyele Rodrigues
Missionária da Comunidade Católica Missão Maria de Nazaré
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