Nas partes 1 e 2, temos feito esse itinerário de descoberta do caminho para uma sólida e segura vida de intimidade com Deus. Já mencionamos a oração, o diálogo de amor com Deus e, na segunda parte de nossa reflexão, o amor pela cruz, que nos une ainda mais intimamente ao Senhor.
Hoje, queremos permanecer ao lado de Jesus crucificado e refletir, por fim, sobre o último pilar que sustenta uma vida de intimidade com Deus. E, para isso, é luminoso tomarmos ipsis litteris as palavras do Evangelho:
“Quando Jesus viu sua mãe e perto dela o discípulo que amava, disse à sua mãe: “Mulher, eis aí teu filho”. Depois disse ao discípulo: “Eis aí tua mãe”. E dessa hora em diante o discípulo a recebeu como sua mãe” (Jo 19, 26-27).
Tracemos, agora, um itinerário desde o início de nossa reflexão para bem compreendermos este terceiro fundamento da intimidade com Deus. O apóstolo João tinha consciência plena desse amor apaixonado de Deus por si. Portanto, sabia-se amado por Deus. Consciente desse amor, buscava intimidade, buscava escutar a Deus, colocava-se em oração, em amoroso colóquio com o seu amado. Ora, essa constante vida de oração e intimidade com o Senhor deu-lhe a capacidade de acompanhar Jesus até o fim, até o Calvário. E aqui encontramos, então, a luminosa coluna de sustentação final da intimidade com o Senhor: o discípulo amado recebe de Jesus, como herança, cuidar e dar-se aos cuidados da Virgem Maria.
Todo cristão que deseja verdadeiramente ser íntimo do Senhor não pode descuidar da sua devoção à Virgem Santíssima. Não uma devoção meramente farisaica ou piegas, mas filial, como um filho que acolhe carinhosamente sua própria mãe (e ela, de fato, o é para nós católicos). Tal devoção e piedade nos garante um caminho mais curto, mais seguro, mais fácil para encontrar a Cristo, conforme nos ensina São Luís Maria Grignion de Montfort no seu “Tratado da Verdadeira Devoção à Virgem Santíssima”. Aproximar-se de Maria é aproximar-se do próprio Cristo, uma vez que a devoção a ela nos une mais fortemente a Jesus, pois a Virgem Maria está inteira imersa em Deus e nada faz que seja contrário à perfeita vontade do Criador. A Virgem Maria é, em última instância, a “forma Dei”, a forma de Deus, o molde pelo qual o Espírito Santo gera os santos na Igreja. Todos os santos a têm – e devem ter – por modelo de vida, de oração, de obediência, de entrega, de renúncia, de perfeita alegria em servir a Deus, em fazer-se escrava de Sua Promessa.
Portanto, ali, no Calvário, na cena que parecia ser a coroação da derrota de Cristo, João colhe o mais precioso presente que o Senhor poderia lhe dar: a presença de Maria em sua vida, além de garantir-lhe esse caminho de santidade a percorrer, ainda lhe serviria de memória do Senhor. Bastava olhá-la para que o coração ficasse repleto da saudosa presença de Jesus, daquele em cujo peito ele reclinara a cabeça, que o amava sobremaneira.
Temos por fim, caríssimos, este seguro itinerário para construirmos uma sólida intimidade com Jesus: a oração constante, colocando-nos em amorosa escuta do Seu Coração; a Cruz, como doce mistério de amor que, assumido, eleva e transcende nossa vida; e, por fim, o amor filial e piedoso à Virgem Santíssima, a única que nos pode ensinar a ser uma imagem clara e límpida do Filho de Deus.
Que o Espírito Santo nos ajude a buscar a intimidade com o Senhor por meio desses três pilares fundamentais, colunas que podem sustentar todo o edifício espiritual que somos nós.
Em Cristo Jesus