Dentro da teologia do corpo, de 1979 a abril de 1980, o Papa São João Paulo II pronunciou uma série de 23 catequeses, dentro das 129 totais da teologia do corpo, sobre o plano original de Deus para o homem, motivado pelas palavras de Jesus no Evangelho de São Mateus: “No princípio não era assim” (cf. Mt 19, 3-9). Primeiramente, portanto, o papa põe-se a analisar o plano original de Deus para o homem e para a mulher, isto é, como era no princípio, qual a ordem original, o que Deus sonhou para a humanidade, mas que foi destruído pela desordem do pecado.
Esse plano de amor está evidenciado nos dois relatos da criação, em Gênesis 1 e Gênesis 2. (TdC, 2) “Então Deus disse: “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança. Deus criou o homem à sua imagem; criou-o à imagem de Deus, homem e mulher Ele os criou” (Gn 1, 27, 30).
Que o homem, individualmente, seja imagem e semelhança de Deus, é indubitável, ninguém duvida. Até mesmo aqueles que não têm uma vivência de fé podem acreditar nessa verdade. Porém, algo que passa despercebido, mas que foi notado por João Paulo II. No final do versículo 27 encontramos : “criou-o à imagem de Deus, homem e a mulher Ele os criou” (Gn 1, 27). Ou seja, não somente o homem individualmente é imagem de Deus, mas a diversidade entre homem e mulher também o são. E também o homem e mulher, quando se unem em santo matrimônio, juntos, são imagem e semelhança de Deus. A comunhão e o amor entre ambos é sinal, sacramento do amor e da comunhão que Deus, em Seu seio trinitário tem, desde a eternidade, no Céu.
“Esta é a vontade de Deus ao vosso respeito” (I Tess 4, 3), esse é o plano original de Deus. Esse era o princípio. No entanto, esse plano foi ferido por Adão e Eva, ao pecarem. No capítulo 3 do Gênesis, depois de pecarem, Adão e Eva já começam a entrar em atrito, com acusações mútuas, um acusando o outro da culpa do pecado; já não conseguem mais ver a nudez um dos outros sem vergonha e cobiça. Essa desordem na relação homem-mulher vai se constatar ao longo de toda história, não é algo que iria terminar ali na Bíblia, não é um simples fim trágico, como fim de um romance. Não. A Bíblia traz a verdade e a verdade acerca do ser-humano.
“Segundo a fé, essa desordem que dolorosamente constatamos não vem da natureza do homem e da mulher, nem da natureza de suas relações, mas do pecado. Tendo sido uma ruptura com Deus, o primeiro pecado tem, como primeira consequência, a ruptura da comunhão original do homem e da mulher. Suas relações começaram a ser deformadas por acusações recíprocas, sua atração mútua, dom do próprio Criador, transforma-se em relações de dominação e de cobiça; a bela vocação do homem e da mulher para ser fecundos, multiplicar-se e sujeitar a terra é onerada pelas dores de parto e pelo suor do ganha-pão.” (Catecismo da Igreja Católica, 1607)
E foi assim ao longo de toda a história, desde após a queda de Adão e Eva. Mas, especialmente nos tempos de hoje, essa desordem no relacionamento do homem e da mulher está nítido. Mulheres que se vestem de modo cada vez mais exibido para serem desejadas. Homens, como caçadores atrás da caça, procurando a mulher como um objeto de prazer. Mas, “no princípio não era assim” (Mt 19, 8b). Deus não nos criou para sermos assim. Deus criou o homem e a mulher à Sua imagem e semelhança, para que, ao olharem um para o rosto do outro, soubessem enxergar o próprio rosto de Deus.
Somos chamados a viver esse plano original de Deus, essa amorosa e sadia convivência, como um dia viveremos plenamente no Céu.
Emanuel de Jesus
Missionário da Comunidade Católica Missão Maria de Nazaré
São João Paulo II, Teologia do Corpo – O amor humano no plano divino, Editora Ecclesiae, 2014.