Ao escrever o Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem Maria, São Luís Maria de Montfort nos ensina um meio para nos aproximarmos de Jesus, indo a Ele por meio da Virgem Maria.
Esse meio, não é um novo meio, pois já é uma devoção que desde o princípio da Igreja tem sido seguida pelos cristãos. Este é um meio que nos foi ensinado pelo próprio Cristo, nos anos que passou em sua vida aqui terra.
A devoção à Santíssima Virgem compreende um meio para chegar ao fim último que é Jesus Cristo.
Pode ser que, mesmo já sendo um consagrado à Virgem Maria você tenha deixado alguns hábitos dessa devoção de lado. Mas, hoje vim te recordar que, para vivermos bem essa devoção devemos deixar que ela perpasse por toda a nossa vida espiritual e material.
No tratado da verdadeira devoção São Luís nos mostra que devemos fazer todas as nossas ações por Maria, com Maria e em Maria; para fazermos todas por Jesus, com Jesus e em Jesus.
O momento sublime da comunhão, no qual somos tocados fisicamente por Cristo, não seria diferente. Por isso, vim hoje recordar a você que São Luís nos ensina, de uma forma muito sábia, como podemos comungar bem e gerando mais frutos por meio dessa verdadeira devoção.
Talvez você esteja vivendo um daqueles momentos de frieza espiritual, em que comungar se tornou um momento “qualquer”, talvez você tenha deixado para trás a beleza e a grandiosidade desse momento e tenha recebido Jesus de uma forma “qualquer” sem a devida devoção.
Mas saiba que comungar bem é uma grande arma para aqueles que desejam buscar a santidade, por isso deixo aqui os ensinamentos de São Luís Maria sobre como podemos utilizar a Devoção a Nossa Senhora como meio para comungar melhor.
MODO DE PRATICAR ESTA DEVOÇÃO NA SANTA COMUNHÃO
(Retirado do Tratado da Verdadeira Devoção à Santissíma Virgem Maria Parágrafos de 266 a 273)
I – Antes da comunhão
1º Humilhar-vos-eis profundamente diante de Deus. 2º Renunciareis a vosso íntimo corrompido e a vossas disposições, ainda que vosso amor-próprio vo-las faça parecer boas. 3º Renovareis vossa consagração, dizendo: “Tuus totus ego sum, et omnia mea sunt: Sou todo vosso, minha querida Senhora, com tudo que tenho 4º Suplicareis a esta boa Mãe que vos empreste seu coração, para, com as mesmas disposições, receberdes seu Filho. Fareis ver a ela, que importa à glória de seu Filho não ser introduzido num coração tão manchado como o vosso, e tão inconstante, que havia de tirarlhe a glória ou perdê-la; se ela, entretanto, quiser habitar em vós para receber seu Filho, pode-o facilmente, em vista do domínio que tem sobre os corações; e, por ela, seu Filho será bem recebido, sem mancha, e sem perigo de ser ultrajado: “Deus in medio eius non commovebitur” (Sl 45, 6).
Dirlhe-eis confidentemente que tudo que lhe tendes dado de vossos bens é pouco para honrá-la, mas pela santa comunhão, lhe dareis o mesmo presente que o Pai eterno lhe deu, presente que mais há de honrá-la, que se lhe désseis todos os bens do mundo; e que, enfim, Jesus deseja ainda ter nela suas complacências e seu repouso, seja, embora, em vossa alma, mais suja e pobre do que o estábulo, ao qual Jesus não opôs dificuldades em descer, pois que ela lá estava.
Com as seguintes e ternas palavras lhe pedireis seu coração: “Accipio te in mea omnia. Praebe mihi cor tuum, o Maria!”.
II Durante a comunhão
Prestes a receber Nosso Senhor Jesus Cristo, dir-lhe-eis três vezes, depois do “Pater”: “Domine, non sum dignus…” etc., como se dissésseis, pela primeira vez, ao Pai eterno que, devido a vossos maus pensamentos e ingratidões para com ele, não sois digno de receber seu único Filho. Eis, porém, Maria, sua serva: “Ecce ancilla Domini”, que tudo faz por vós, e que vos dá uma confiança e esperança especiais, junto de sua Majestade: “Quoniam singulariter in spe constituisti me” (Sl 4, 10).
Direis ao Filho: “Domine, non sum dignus…” etc., que não sois digno de recebê-lo, por causa de vossas palavras inúteis e más, e vossa infidelidade em seu serviço; vós lhe rogais, entretanto, que tenha piedade de vós, pois que ides introduzi-lo na morada de sua própria Mãe e vossa, e que não o deixareis partir, sem que ele venha aí alojar-se: “Tenui eum, nec dimitttam, donec introducam illum in domum matris meae, et in cubiculum genitricis meae” (Ct 3, 4).
Implorar-lhe-eis que se levante e venha para o lugar de seu repouso e para a arca de sua santificação: “Surge, Domine, in requiem tuum, tu et arca sanctificationis tuae” (Sl 131, 8). Dir-lhe-eis que, de modo algum, depositais vossa confiança em vossos méritos, vossa força e vossas preparações, como Esaú, e sim nos de Maria, vossa querida Mãe, a exemplo do pequeno Jacob nos desvelos de Rebeca; que, pecador e Esaú que sois, ousais aproximar-se de sua santidade, ornado e apoiado pelas virtudes de sua Mãe Santíssima.
Direis ao Espírito Santo: “Domine, non sum dignus…” etc., que não sois digno de receber a obraprima de sua caridade, em vista da tibieza e iniqüidade de vossas ações e de vossas resistências a suas inspirações. Mas toda a vossa confiança é Maria, sua fiel Esposa. E direis com São Bernardo: “Haec mea maxima fiducia est; haec tota ratio spei meae”.
Podeis mesmo pedir-lhe que desça ainda a Maria, sua Esposa inseparável; pois seu seio é tão puro e seu coração tão abrasado como sempre, e que se ele não descer à vossa alma, Jesus e Maria não serão aí formados, nem dignamente alojados.
III – Depois da santa comunhão
Inteiramente recolhido, os olhos fechados, depois da santa comunhão, introduzireis Jesus Cristo no coração de Maria. A sua Mãe o dareis, e ela o receberá amorosamente, colocá-lo-á em lugar de honra, adorá-lo-á profundamente, amá-lo-á perfeitamente, abraçá-lo-á estreitamente, e, em espírito e verdade, lhe prestará honras que nós, cercados de espessas trevas, desconhecemos.
Ou, então, jazei profundamente humilhado, na presença de Jesus residindo em Maria; ou permanecei como um escravo à porta do palácio real, onde o Rei se entretém com a Rainha; e, enquanto eles conversam sem necessidade de vossa presença, ide em espírito ao céu e a toda a terra rogar às criaturas que em vosso lugar agradeçam, adorem e amem a Jesus e Maria: “Venite, adoremus, venite!” (Sl 94, 6).
Ou, ainda, pedi a Jesus, em união com Maria, que, por meio dela venha à terra o seu reino, ou a divina sabedoria, ou o amor divino, ou o perdão de vossos pecados, ou qualquer outra graça, mas sempre por Maria e em Maria. E, considerando-vos a vós mesmo, dizei: “Ne respicias, Domine, peccata mea – Senhor, não olheis os meus pecados” “sed oculi tui videant aequitates Mariae”: mas que vossos olhos só vejam em mim as virtudes e graças de Maria.
E, lembrando-vos de vossos pecados, acrescentareis: “Inimicus homo hoc fecit” (Mt 13, 28): Eu, que sou o meu maior inimigo, cometi esses pecados; ou, então: “Ab homine iniquo et doloso erue me” (Sl 42, 1), ou “Te oportet crescere, me autem minui” (cf. Jo 3, 30): Meu Jesus, é preciso que cresçais em minha alma e que eu diminua. Maria, é preciso que cresçais em mim e que eu seja menos do que tenho sido. “Crescite et multiplicamini” (Gn 1, 22): “Ó Jesus e Maria, crescei em mim e multiplicai-vos fora, nos outros.
São infinidade os pensamentos que o Espírito Santo fornece, e vos fornecerá se fordes bastante interior, mortificado e fiel a esta grande e sublime devoção, que acabo de ensinar-vos. Lembrai-vos que, quanto mais deixardes Maria agir em vossa comunhão, mais será Jesus glorificado; e tanto mais deixareis agir Maria para Jesus, e Jesus em Maria, quanto mais profundamente vos humilhardes, e, então, os ouvireis em paz e silêncio, sem vos afligirdes para ver, degustar, nem sentir, pois, em toda parte, o justo vive da fé, e especialmente na santa comunhão que é um ato de fé: “Iustus meus ex fide vivit” (Hb 10, 38).
Aproveite desse roteiro elaborado por São Luís Maria para colher os frutos dessa preciosa devoção durante a Santa Comunhão.
Mariana Brito
Missionária da Missão Maria de Nazaré