Iniciei no grupo de oração muito cedo, aos 10 anos eu já frequentava o grupo da paróquia e pela graça de Deus minha avó materna sempre foi engajada nos movimentos da Igreja, apostolado de oração, terço, RCC. Desta maneira ela nos colocava para participar de tudo, mesmo não entendendo muita coisa do que era dito. Servi como coroinha por mais de 8 anos, fui leitor, do ministério de música, enfim, era muito ativo, mas tinha uma realidade complexa dentro de casa, uma criação meio conturbada e um relacionamento distante com meu pai, por vários fatores, dentre eles as bebidas e as drogas das quais ele fazia uso.
Esta realidade, associada ao meio onde vivia e as companhias que me cercavam, moldavam em mim uma personalidade que me tornava muito suscetível aos convites dos amigos, desta maneira comecei a beber e a frequentar as festas de maneira bem prematura. Antes dos 15 anos já me embriagava e me deixava levar por uma sexualidade cada vez mais deturpada. Mesmo diante de todos estes percalços, nunca me afastei do grupo de oração e um dia um amigo me fez um convite para participar de um retiro de carnaval chamado de “Rebanhão” que era organizado pelos grupos de oração da cidade em parceria com a RCC.
Como não tinha nada para fazer, resolvi dar uma oportunidade e participar e para o meu espanto era algo que eu nunca tinha visto na minha vida, jovens pulando, dançando, rindo e se divertindo sem nenhum pingo de bebida ou droga, eu queria muito ser assim, mas ainda estava muito tímido. Além dos muitos momentos de animação também haviam as pregações e momentos de oração, dentre os quais destaco o momento que mudou a minha vida para sempre e do qual nunca vou me esquecer: no dia 23 de fevereiro de 2009 as 15:05h da tarde foi ministrado pelo Renato um pregador da cidade de Pará de Minas uma pregação de Batismo no Espírito Santo. Eu não entendia muita coisa, mas o pregador dizia que Jesus seria para mim o pai, pai que nunca me decepcionaria, que eu abrisse o meu coração ao Espírito Santo e deixasse ele realizar a obra e após o repouso que eu tive nunca mais fui o mesmo.
Frequentava todos os grupos de jovens e participava de todos os retiros e encontros que apareciam pela frente, estava com uma sede de Deus que parecia não acabar, quanto mais eu bebia mais sede eu tinha. Conheci minha esposa em um retiro, a mulher mais linda e virtuosa que o bom Deus me concedeu, servíamos juntos na RCC e participávamos de forma muito intensa e assídua, mas sentíamos que Deus nos pedia mais, e o nosso desejo de corresponder a este chamado era gigantesco, porém não sabíamos onde. Já conhecia a comunidade, pelo menos já ajudávamos nos eventos do Grupo de Jovens Maria de Nazaré, participamos de vários retiros e ministrações de forma conjunta, mas pelo menos eu em meu coração não imaginava que daquele grupo brotava uma comunidade tão frutuosa quanto a MMN.
Ocorreu que o grupo da RCC ao qual participamos decidiu dar passos para se tornar uma nova comunidade, se desligou da RCC e se tornou uma fraternidade católica, então eu logicamente pensei, até que enfim Deus está nos mostrando o nosso lugar, o lugar onde podemos entregar a nossa vida no amor a Deus e aos irmãos, mas esta fraternidade permaneceu assim por anos e nos vimos estagnados em um vazio interior e uma sensação de não correspondência a vontade de Deus que nos dilacerava por dentro. Eu que tinha medo de romper com esta fraternidade recusava a todos os convites que a minha esposa Maira me fazia para poder participar dos encontros vocacionais da MMN, achava no meu íntimo que aquilo seria uma verdadeira perda de tempo e que Deus não iria nos querer na MMN, pois nas diversas vezes em que tivemos a oportunidade de estar juntos Deus não havia me dito nada.
Mas no ano de 2021 decidi juntamente com a Maira participar deste encontro vocacional e pedi ao coordenador da fraternidade da qual fazíamos parte que me liberasse e ele para poder ver o que Deus queria de nós e ele me deu o tempo que fosse necessário. Fizemos o encontrão vocacional que fala de maneira bem superficial sobre aquilo que é a Comunidade, seus apostolados, mas o mais importante e que já incomodou o meu coração, fala sobre o carisma, algo que está em nós desde sempre, algo para nós fazer santos e então corresponder a vontade de Deus, aquilo me deixou maravilhado, como eu queria ser Santo, como eu desejava que minha família também fosse. Nesta época já tínhamos três filhas, Clara, Teresa e Catarina e após este encontrão eu queria mais, queria saber tudo, queria que Deus falasse de fato me mostrasse que realmente aquele era o meio, o ônibus para o caminho de santidade que por tantos anos estávamos procurando.
Fizemos os três encontros vocacionais e em cada um deles Deus falava comigo, e ele usava de várias maneiras, ao ver o quanto a história de vida do fundador me marcava e quantos acontecimentos da minha vida eram semelhantes e quantas situações que ocorreram conosco nos pedia o abandono total a vontade de Deus, a vivência da pobreza, castidade e obediência. Me lembro que no último retiro vocacional, pouco antes de escrever a minha carta, o Senhor me dava uma visualização, de José fugindo com Maria e Jesus para o Egito, e me lembro que eu via claramente como se fosse eu e minha família fugindo de fato.
O Senhor me dizia: Por muitos anos tu fixaste morada no Egito, mas agora é hora de voltar, volta para a tua casa, volta para Nazaré. Ali naquele momento diante de Jesus no Santíssimo Sacramento do altar me comprometi com o Senhor, me comprometi em dar tudo, sem reservas e ressalvas. Hoje posso dizer com toda a alegria que existe em meu coração, não há melhor lugar do que na vontade de Deus. Como agradeço ao Senhor por me gerar e formar através deste carisma, não só a mim, mas a minha família. Por tantos anos como Agostinho procurava um sentido longe, distante e eis que tu Senhor estavas dentro de mim.