Muito se fala sobre o sentido e a finalidade da mulher na contemporaneidade. À mulher são impostos dois caminhos, aparentemente opostos, ser esposa e mãe ou ser bem-sucedida profissionalmente?
Acontece que a vida real não é uma prova de “verdadeiro ou falso”, de forma que não é possível responder “ou isto ou aquilo”. Muitas vezes a resposta pode ser: “isto e aquilo”.
Frequentemente esquecemos que a alma feminina é peculiar, tem um chamado à completude e, por natureza, é maternal. Ela cuida, acolhe, vela e conserva, de forma que negar a peculiaridade da alma feminina é negar a sua própria natureza.
A mulher tem aspiração pela totalidade, mas não é confinada ao seu próprio eu. Ela é expansiva e aspira essa totalidade também no outro. O problema é que a sua predisposição à totalidade pode levá-la facilmente à dispersão das suas forças, retira-lhe a objetividade necessária, sendo lançada a tentativas superficiais. A mulher tende a se dedicar excessivamente à vida dos outros e nela se perde.
Assim sendo, como opor-se a esse desvio?
“Um remédio bom e natural contra todas as fraquezas tipicamente femininas é o trabalho objetivo e bem executado. Por meio dele são afastadas naturalmente a inclinação excessiva para o lado pessoal e a superficialidade nas atividades”[2].
Contudo, a verdadeira restauração não advém de fatores externos, mas deve começar de dentro para fora, pela força da Graça. Dessa forma, a mulher estará protegida contra o risco de errar a medida do amor solícito que lhe é natural.
Muitos podem crer, erroneamente, que a atividade profissional da mulher contraria a ordem natural e da graça. Entretanto, a ordem original prevê justamente o contrário: “a ação comum de homens e mulheres em todas as áreas, apesar de uma distribuição diferenciada dos papéis”[3]. Homens e mulheres são iguais do ponto de vista da natureza humana e de sua dignidade[4]. Discordar dessa atuação conjunta é que seria contrária à ordem divina.
Além disso, não podemos ignorar o fato de que o excesso de atividade profissional do homem, não raras vezes, leva-o a afastar-se totalmente da vida familiar. Em outros momentos, esse trabalho é até utilizado como desculpa para o descumprimento dos seus deveres paternais.
Fato é que a mulher cumpre com o seu dever de acordo com as exigências do momento.
Ela é capaz de antecipar a resolução dos problemas, encontra os meios e dá as instruções. Ela percebe as falhas, estende a mão. O olhar silencioso da Mulher, antes que os outros percebam, tudo vê[5].
Por isso, o ingresso das mulheres nos diversos setores profissionais não deixa de ser benéfico para toda a sociedade, desde que seja resguardada a singularidade do ser feminino, pois o “seu valor é maior que o das pérolas”[6].
Magali
Missionária da Missão Maria de Nazaré
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[1] O presente texto foi escrito com base nos ensinamentos da Dra. Edith Stein, filósofa e teóloga alemã, primeira mulher a defender uma tese de filosofia na Alemanha. É conhecida no meio católico por “Santa Teresa Benedita da Cruz”.
[2] STEIN, Edith. A mulher: sua missão segundo a natureza e a graça. 1 edição. Editora Ecclesiae, 2020.
[3] Idem.
[4] Carta Apostólica Mulieris Dignitatem do Sumo Pontífice João Paulo II sobre a dignidade e a vocação da mulher.
[5] João 2, 1–11.
[6] Provérbios 31,10.