A união matrimonial é definida na palavra de Deus, já no livro do Gêneses, como dois que passam a se tornar um só: “Por isso, o homem deixa o seu pai e sua mãe para se unir à sua mulher; e já não são mais que uma só carne.” (Gn 2, 24). Esta união representa a complementariedade do feminino e do masculino, no qual, em seus corpos, já apontam para a capacidade de completarem um ao outro. Além disso, esta união representa também a geração de uma nova vida, ou seja, de procriação.
Sobre este aspecto, São João Paulo II diz que: “Não deixa de ter significado que a situação em que o marido e a mulher se unem tão intimamente entre si a ponto de formar ‘uma só carne’ tenha sido definida como ‘conhecimento’” (TdC 20). Percebemos esta definição de conhecimento para se referir a união entre um homem e uma mulher também no novo testamento, como no diálogo de Maria com o Anjo Gabriel: “Maria perguntou ao Anjo: ‘Como se fará isso, pois não conheço homem’” (Lc 1, 34). Deste modo, percebe-se que a união conjugal não se trata apenas de uma comunhão de corpos, mas também de almas, já que o conhecimento do outro é uma realidade interior e não necessariamente exterior ou física.
Uma outra consideração a ser feita sobre a união entre o homem e a mulher em relação ao ‘conhecimento’ entre ambos, é que conhecer é uma condição para o amor, pois para que o amor seja pleno é necessário que haja uma revelação de quem o outro é, ou seja um conhecimento: “Isso autoriza-nos, em certo sentido, a afirmar que ‘o marido conhece a mulher’, ou que ambos ‘se conhecem’ reciprocamente. Então eles revelam-se um ao outro com aquela específica profundidade do próprio ‘eu’ humano, que por sinal se revela também mediante os sexos, masculinidade e feminilidade” (TdC 20). O conhecimento mostra a profundidade que deve haver em uma união sexual, já que não se trata apenas de algo ‘carnal’, mas envolve o ser humano como um todo.
O conhecimento recíproco entre o homem e a mulher também ilumina o significado da procriação, pois conceber traz em si o sentido de ‘compreender’: “A procriação faz com que ‘o homem e a mulher (sua esposa)’ se conheçam reciprocamente no ‘terceiro’, originado de ambos’” (TdC 21). Deste modo, podemos dizer que o fruto desta união (o filho), revela ambos, homem e mulher, no qual, a partir do exercício de seus papeis, paternidade e maternidade, poderão também formarem a criança que deles nasceu.
Portanto, conhecer o significado do corpo e sua finalidade na união entre o homem e a mulher é fundamental para assimilação de seu sentido pleno. Além disso, ao associarmos este conhecimento a realidade da procriação, ou seja, da geração de uma nova vida, nos deparamos também com a finitude humana, como afirma São João Paulo II: “Todavia, sempre volta na história do homem o ciclo do ‘conhecimento-procriação’, em que a vida luta, sempre de novo, com a inexorável perspectiva da morte, e sempre a domina. Apesar de todas as experiências da própria vida, apesar dos sofrimentos, das desilusões, de sua pecaminosidade, e apesar da perspectiva inevitável da morte, o ser humano coloca sempre de novo o ‘conhecimento’ no ‘início’ da ‘geração’; desse modo ele parece participar naquela primeira ‘visão’ do próprio Deus: o Criador ‘viu tudo…, e achou que era muito bom’ (cf. Gn 1, 31). (TdC 22). Porém, como o próprio papa nos faz entender, apesar da certeza da morte e as dificuldades da vida, o ser humano sempre terá em sua essência o desejo profundo de participar desta contínua ‘procriação’.
Valdo Júnior
Cofundador da Missão Maria de Nazaré