Provavelmente você conhece um dos significados da palavra gozar, trata-se de uma expressão muito utilizada atualmente. Podemos dizer que este vocábulo possui uma variedade de sentidos e interpretações. Pois bem, aqui nos delimitaremos à dois significados, sendo que neste texto abordaremos apenas o primeiro.
O primeiro significado da palavra gozar define uma forma objetiva de ação, significa usar ou “servir-se de um objeto de ação como um meio para atingir o fim para o qual tende o sujeito que atua”[1]. Esse servir pressupõe uma relação de subordinação, pois o meio utilizado serve ao fim que se pretende alcançar ao mesmo tempo em que serve ao sujeito.
Ocorre que esse ponto ganha maior relevância quando analisado nas relações entre pessoas, sobretudo na vida sexual.
Sendo assim, podemos suscitar a seguinte questão: nas relações inter-humanas temos o direito de tratar a pessoa como um meio e de utilizá-la como tal? Sendo mais clara, a mulher pode ser considerada um objeto utilizado pelo homem para atingir seu prazer sexual e vice-versa?
Sabemos que uma pessoa não pode ser para outra apenas um meio, não pode ser reduzida a um simples objeto, pois isso contraria a sua natureza, a sua própria essência. Trata-se de um princípio absolutamente universal: ninguém tem o direito de servir-se de uma pessoa, de usá-la como um meio[2].
Qual seria então o antídoto para esse problema?
Acho que se você já sabe a resposta: o amor! O amor é a ferramenta que podemos dispor para que a pessoa não seja utilizada como um simples instrumento para a nossa satisfação pessoal. Em outras palavras, só o amor pode excluir a utilização de uma pessoa por parte da outra.
Acontece que chegar a esse ponto não é tão simples como parece. É preciso que a outra pessoa também queria o mesmo, isto é, é necessário que haja objetivos comuns, que ambas escolham o mesmo fim.
Feito isso, “entre essa pessoa e eu, cria-se um laço que nos une: o laço do bem e, por conseguinte, do fim comum. Este laço não se limita a fazer com que dois seres tendam juntos para um bem comum, mas une também “a partir de dentro” as próprias pessoas que atuam, e deste modo constitui o núcleo de todo amor”[3].
Essa atuação conjunta em favor de um bem comum evita que uma pessoa tenda a se subordinar a outra, porque aos poucos o amor eliminará a atitude utilitarista em relação ao outro.
Assim, na concepção cristã, esse objetivo é alcançado no matrimônio, tendo em vista que este fim será a família e, por consequência, a maturidade da relação do casal.
Entretanto, lamento informar que a finalidade matrimonial dita acima não consegue, por si só, solucionar adequadamente o problema. Na verdade, sabemos que as relações sexuais são as que mais oferecem ocasião para que as pessoas se sirvam mutuamente como um objeto de prazer.
Desse modo, faz-se imprescindível considerar a relação homem-mulher de forma integral, sem limitá-la ao matrimônio. Mas como fazemos isso? É o que veremos na segunda parte deste texto.
[1] Wojtyla, Karol. Amor e responsabilidade. São Paulo: Cultor de Livros, 2016.
[2] Idem.
[3] Idem.