A Teologia do Corpo do Papa João Paulo II é, sem dúvida, uma das obras religiosas mais completas que a Igreja possui, além de ser tão necessária de divulgação, principalmente na atualidade no qual o conceito de sexualidade vem sendo tão deturpado. Pode-se considerar que ela se trata de uma releitura da sexualidade humana e também numa renovação da pedagogia evangelizadora, pois irá se referir ao ser humano não com repressões, normas e proibições, mas sim apresentando a beleza do homem e da mulher, além de mostrar que a sexualidade é um dom de Deus e deve ser cuidada e respeitada.
Como foi dito nos primeiros textos, todo conteúdo da TdC pode ser dividido em três partes: redenção do corpo; a sacramentalidade do matrimônio e as reflexões acerca da Humanae Vitae (Carta Encíclica do Papa Paulo VI). A maior parte das catequeses ministradas pelo Papa está nesta primeira parte (mais de 80 alocuções), isso demonstra como João Paulo II quis refletir sobre a questão da sexualidade humana. Esta reflexão, pode-se dizer, foi tão filosófica quanto teológica, pois fará referência a essência e existência do ser humano. Porém ela também é basicamente bíblica, já que o Papa buscará na palavra de Deus responder aos grandes questionamentos do homem: de onde viemos, por que existimos, para onde vamos.
A primeira parte das catequeses é, segundo João Paulo II, “dedicadas à análise das palavras de Cristo” que se mostram adequadas para adentrar a temática de todo o conjunto da obra, que segundo ele pode ser definido como “O amor humano no plano divino”. A primeira parte, denominada redenção do corpo, pode por sua vez ser dividida também em três seções: primeiro o homem genuíno ou da inocência original; segundo o homem histórico da concupiscência e redimido; e terceiro o homem escatológico ou plenamente recriado. As três seções estão cada uma em relação com uma das três situações nas quais se desenrola toda a trama da existência humana: o homem criado, decaído e ressuscitado.
Em relação a primeira seção da primeira parte (redenção do corpo), o Papa remete ao princípio (criação do homem e da mulher), porém o texto evangélico fundamental é Mt 19 3-8 (ou Mc 10 2-8) que foi apresentado no segundo artigo desta formação na qual Jesus é questionado pelos fariseus sobre a indissolubilidade do matrimônio, e Jesus então remete ao gêneses: “no princípio não era assim”. A partir daí o Papa faz uma belíssima explicação em suas primeiras catequeses sobre as duas narrativas da criação (Gêneses 1 e 2) e explica que a primeira narrativa se refere a uma apresentação mais objetiva da essência humana, enquanto a segunda narrativa faz uma apresentação mais subjetiva.
É nesta segunda narrativa que Jesus irá recorrer para responder aos fariseus: “Por isso, o homem deixará o pai e a mãe, e unir-se-á a sua mulher, e serão os dois uma só carne? Portanto, já não são dois, mas uma só carne (Gn 2, 24) e é também neste capítulo 2 que aparece um conteúdo fundamental da TdC acerca da inocência original e no capítulo 3 a da queda original (pecado). Este conteúdo o Papa retira três elementos essenciais para compreensão deste ser humano criado por Deus: o primeiro elemento é o da solidão original; o segundo é a experiência da unidade ou comunhão original; e em terceiro o elemento da nudez original. Todos estes três fatores foram experimentados pelos primeiros humanos (Adão e Eva) e para João Paulo II estão presentes na essência de todo homem e mulher, além disso, esta reflexão irá nortear a ideia do plano original de Deus para humanidade.
Esta primeira seção comporta 23 alocuções dentre os 86 referentes a redenção do corpo. Iremos ao longo destes artigos abordar cada um destes fatores citados (solidão, unidade e nudez), um por vez, a fim de compreendermos mais a fundo seu sentido. É importante não perder de vista a importância deste material deixado por São João Paulo II, mas também levar em conta sua complexidade para não desanimarmos. O Papa não nos deixou apenas uma reflexão filosófica, que pode a princípio parecer abstrata, mas uma orientação para toda vida, que se não for levada para o campo da práxis perde totalmente seu sentido. É necessário não apenas receber o presente deixado por ele, mas principalmente abrir e utilizá-lo, pois, é para nosso bem e felicidade.