O ano de 1979 poderia ser apenas mais um ano normal aos olhos do mundo e, talvez, para o católico, um ano meramente especial, pois nesse ano Santa Madre Teresa de Calcutá ganhara o prêmio Nobel da paz. Mas, precisamente nesse ano, o Papa João Paulo II dava início a uma série de 129 catequeses que trariam ao homem moderno uma nova forma de enxergar a doutrina católica sobre a sexualidade humana: a Teologia do Corpo.
Mas por que esse nome? Não seria o corpo um elemento meramente natural e banal do ser humano para ser colocado na teologia? A resposta é não. O Sumo Pontífice nos faz olhar para o corpo de forma diferente.
“O corpo, de fato, e só ele, é capaz de tornar visível o que é invisível: o espiritual e o divino. Foi criado para transferir para a realidade visível do mundo o mistério oculto desde a eternidade em Deus e assim ser sinal d´Ele.” (TdC 19)
Ou seja, ao olharmos para o homem – em sua integridade, corpo e alma – conseguimos enxergar o próprio Deus. O corpo fala e não fala somente de seus sentimentos ou reflexos, mas também das realidades espirituais e Deus quis e quer falar pelo corpo. O corpo foi criado para ser um sinal de Deus.
Não somente isso, mas Deus, ao encarnar-se em um corpo, mostra-nos, revela-nos plenamente o que é o homem. Ou seja, ao olhar o Deus que se fez corpo, o homem é capaz de compreender algo do ser humano.
Por isso de uma “Teologia do Corpo”, confirmada pelas palavras de João Paulo II: “Pelo fato de o Verbo de Deus ter se feito carne, o corpo entrou pela porta principal na teologia.” (TdC, 23).
De fato, a teologia do corpo cai como uma bomba no mundo moderno. Precisamente na década em que o santo começou a proferir suas catequeses, a revolução sexual estava estourando por todo mundo, a pílula anticoncepcional surgia em seus primeiros anos; nos Estados Unidos, em 1973, a Suprema Corte, depois do caso de Roe vs. Wade, legaliza o aborto em todo país, além do surgimento massivo de músicas, filmes e outros meios culturais exaltando o corpo humano como um simples objeto de prazer.
Perdia-se a visão do transcendental ao olhar para o ser-humano. Homem e mulher
tornam-se uma reles máquina de prazer. Mas, para cada tempo, diante de um problema no mundo, Deus suscita um santo para combater a mentira com a espada da verdade. Eis, portanto, a espada da verdade a penetrar o mundo pan-sexualizado: Deus se fez carne, Deus santificou o corpo humano e esse corpo nos revela Deus, revela-nos seu mistério de amor, e esse ser-humano foi criado não para se autodestruir em uma vida de prazer desenfreada, mas para subir aos mais altos cumes de santidade, criado para amar. “O ser humano é chamado ao amor e ao dom de si na sua unidade corpórea-espiritual.” (Conselho Pontifício para as Famílias)1
Emanuel de Jesus
Missionário da Comunidade Católica Missão Maria de Nazaré
- João Paulo II, Teologia do Corpo: O Amor Humano no Plano Divino. Trad. port. de José E. Câmara de B. Carneiro. São Paulo: Ecclesiae, 2014.
- 1 – Conselho Pontifício para as Famílias, Sexualidade Humana: Verdade e Significado, de 8 dez. 1995.